sexta-feira, 5 de junho de 2009

Múltiplas visões sobre o meio ambiente no Brasil

Quinta-feira, 4 de junho de 2009, 16:29 Online

Personalidades com conhecimento na área dizem o que melhorou e o que piorou no último ano no País

Bruno Versolato - especial para O Estado de S.Paulo


SÃO PAULO - Cinco personalidades com visões diferentes sobre o ambiente no Brasil falam dos avanços e retrocessos na área. Na lista estão o embaixador e ex-ministro do Meio Ambiente e Amazônia e da Fazenda Rubens Ricupero; o físico, professor, ex-ministro da Educação e ex-secretário de Ciência e Tecnologia de São Paulo José Goldemberg; o bispo da CNBB dom Pedro Luiz Stringhini; o empresário do ramo de mineração e energia Eike Batista; e a atriz Christiane Torloni.

Com exceção de Goldemberg e Eike Batista, todos se mostraram preocupados com projetos que tramitam no Congresso e tentam retirar da União, transferindo para Estados e municípios, a prerrogativa de fixar, por exemplo, o tamanho das áreas de proteção permanente às margens dos rios e córregos. "Sei pela minha experiência que Estados e municípios são os que menos zelam pelo ambiente", diz Ricupero. "Basta ver como madeireiros financiam as eleições no Pará."

Para a atriz Christiane Torloni, é preciso uma mobilização da sociedade para conhecer os políticos que querem alterar o código florestal para que eles não sejam eleitos. "Podemos fazer isso democraticamente".


O QUE AVANÇOU E O QUE RETROCEDEU?

Rubens Ricupero - ex-ministro e embaixador
"A maioria das coisas ficou na mesma. Eu uso como referência o tempo em que fui ministro do Meio Ambiente e Amazônia, entre 1993 e 1994. Nesse tempo, questões como o desmatamento da Amazônia e zoneamento ecológico não registram avanços. Os únicos avanços que tivemos no período foram tecnológicos, mas, infelizmente, não seguidos da mesma eficiência na repressão. Pode haver um retrocesso se esse projeto da bancada ruralista passar, em que Estados e municípios podem definir o porcentual de floresta a ser preservado, o que é muito preocupante"


José Goldemberg - professor da USP
"A redução do desmatamento na Amazônia e a sinalização do Ministério do Meio Ambiente pelo estabelecimento de metas, além de um projeto do Executivo de São Paulo propondo limites para emissões de gases de efeito estufa, finalizaram um cenário de avanço. No entanto, a matriz energética nacional tomou a direção errada com usinas térmicas a gás e carvão e o licenciamento ambiental da usina nuclear Angra 3, baseado em compensações locais e na promessa de um depósito definitivo para os rejeitos radiativos. A má qualidade do óleo diesel nacional e os planos para autorização da expansão da cana no Pantanal também são pontos negativos"


Dom Pedro Luiz Stringhini - bispo da CNBB
"A sociedade brasileira tem avançado na reflexão e na tomada de consciência. No Brasil, os governos não têm priorizado a defesa do ambiente. Santa Catarina, em seguida às lamentáveis catástrofes, propõe modificação na legislação para que se avance na derrubada das matas ciliares. As obras do PAC e o entusiasmo com o pré-sal vão na contramão das soluções alternativas para o uso de energia. É necessário apostar na educação ambiental, valorizar um novo padrão de consumo, apoio efetivo à agricultura familiar e ao microcrédito, transporte coletivo de qualidade, desmatamento zero, moralização do Ibama e órgãos de controle"


Eike Batista - empresário
"O Brasil tem avançado muito na legislação ambiental, com uma visão ampla do que se precisa fazer, seguindo os melhores padrões internacionais. Para decolar, um projeto passa por rigorosa análise ambiental, em que tudo é checado. Não avalio que tenha havido retrocesso na área de ambiente, pelo contrário. O nível de exigência vem aumentando. É preciso entender e produzir estudos de impacto ambiental e estar preparado para fazer novos estudos, aperfeiçoados. Pode custar mais caro, levar mais algum tempo, mas o órgão público tem de ter o embasamento necessário para conceder licenças e é preciso fazer as coisas certas"


Christiane Torloni - atriz
"A discussão no Brasil avançou muito. Falar de floresta amazônica era papo de ecochato e, no dia 13, foi possível realizar uma vigília de oito horas no Senado para ouvir cientistas e políticos sobre o tema. Outro dia, um deputado disse que se lixava para opinião pública e nossa vigília mostrou que a opinião pública tem seu lugar. O grande retrocesso é o Código Florestal estar sob ameaça, como em Santa Catarina, que atropelou a Constituição e interferiu em uma questão federal. Nós precisamos anotar o nome dos políticos que querem boi e soja no lugar de mata para que eles não voltem"

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente a vontade,buscando sempre manter o respeito pelo outro.Por favor não esqueça de colocar seu nome e nome da sua organização.